Se transformar em um vampiro, receber um chip líquido e até morrer após seis meses da imunização contra Covid. Essas são algumas das mensagens falsas que estão circulando nos últimos dias em grupos de WhatsApp e páginas de Facebook de indígenas em Mato Grosso do Sul nas comunidades que tám acesso a internet. Representantes das comunidades opinam que esses boatos tám no mínimo atrapalhado a vacinação.
Segundo dados desta terça-feira (26), da secretaria estadual de Saúde (SES), uma semana após a campanha de vacinação contra a doença começar no estado e tendo os indígenas aldeados como um dos grupos prioritários, somente 26% dessa população, o que representa aproximadamente 12 mil pessoas, de um total de 46.180, receberam as doses.
O secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, disse ao G1 nesta terça que não se pode dar luz a essas informações falsas e que trabalha para melhorar a logística de vacinação nas aldeias e consequentemente acelerar a imunização nas comunidades.
O professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e residente na aldeia Te’ykoe, em Caarapó, região sul do estado, Eliel Benites acredita que as notícias falsas causam insegurança em relação í vacina e amedrontamento da população.
Ele explica que as informações falsas chegam por meio de redes sociais, e os conteúdos chocam parte da comunidade que vá na imunização uma oportunidade do retorno í normalidade nas aldeias.
;As fake news são várias, elas dizem que pessoas podem virar vampiros ao tomar a vacina e até mesmo morrer após seis meses da imunização. Isso vem amedrontando a comunidade indígena contra a vacina, que é muito importante para nós voltarmos ao normal;, destaca o professor.
As informações falsas que o G1 teve acesso são produzidas de diferentes formas. íudios gravados em guarani são utilizados para transmitir as informações falsas de que as ;pessoas virariam vampiros após a imunização;. Vídeos e imagens retiradas da internet são mesclados a uma narração, com o discurso de que ;há um chip líquido dentro da vacina para controle; e de que ;haverá morte em massa da população após seis meses da aplicação do imunizante;.
Infectologista desmente informações falsas
A infectologista Mariana Croda esclareceu ao G1 que essas mensagens que estão circulando nos grupos e redes sociais dos indígenas no estado são todas falsas. A reportagem apresentou a médica os trás boatos mais difundidos entre as comunidades:
- A vacina contra a Covid-19 pode transformar as pessoas em vampiros?
- A vacina contra a Covid-19 possui um chip líquido que será usado para monitorar os imunizados?
- Após seis meses da imunização contra a Covid-19, haverá uma morte em massa da população?
Aos trás questionamentos, ela deu a mesma resposta: ;não são verdadeiras;.
;Tudo não [ ao dizer que a resposta a todas as perguntas era ;não;], os locais que já vacinaram não evidenciaram isso. Nós não podemos culpabilizar as pessoas, houve a banalização da vacina por parte do governo federal, e que viralizaram. A população está reproduzindo informações falhas dessas pessoa do alto escalão;, destacou a médica.
Logística da imunização dos indígenas aldeados
Mato Grosso do Sul recebeu o primeiro lote com doses de vacina contra a Covid-19 no dia 18 de janeiro. Foram destinadas ao estado 158 mil doses. Segundo a SES, o público-alvo da campanha entre as comunidade indígenas nesta primeira fase da imunização é de 46.180, mas com uma imunização de apenas 26% uma semana após o recebimento das doses o trabalho ainda não deslanchou.
O secretário estadual de Saúde nega que os boatos espalhados pela internet estejam atrapalhando, mas aponta a logística e o armazenamento como gargalos. Disse que um dos problemas é o armazenamento das vacinas, na temperatura correta, nas comunidades. ;Muitas dessas comunidades não possuem nem geladeira adequada para armazenar as vacinas;, diz.
Outra questão e que algumas dessas comunidades não tám acesso a internet, o que dificulta o repasse de informações oficiais das autoridades de saúde aos profissionais que trabalham nessa área nas aldeias.
Outra questão logística levantada por quem vive em uma dessas comunidades, como o professor Eliel, é o do próprio acesso das equipes da imunização as aldeias. Devido as fortes chuvas dos últimos dias, algumas estradas ficaram praticamente intransitáveis e isso também provocou atrasos.
Nesta terça-feira (26), o secretário estadual de Saúde participou de uma reunião com a direção estadual do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), para discutir como o governo do estado pode auxiliar no processo de imunização das comunidades indígenas.
O chefe da saúde de Mato Grosso do Sul destacou um plano otimista para imunização dos povos indígenas aldeados no estado. ;O coordenador DSEI MS, Joe Soccenti garantiu que em 30 dias, todos os 48 mil indígenas presentes no grupo prioritário serão imunizados;.
Covid-19 e os indígenas
Segundo dados atualizados nesta terça-feira (26) pelo ministério da Saúde, o distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Mato Grosso do Sul registrou o maior número de indígenas infectados e mortos pela Covid-19 em todo o Brasil. Ao todo, foram 4.058 contaminados com a Covid-19 e 82 mortes em decorráncia do vírus. Atualmente, estão com o vírus 107 indígenas em todo o estado.
Fonte: José Câmara e Mônica Dau, G1 MS e TV Morena
2021-01-27 10:32:00