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Médica indígena caarapoense atende patrícios na língua nativa e mostra que é possível ‘chegar lá’

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Na semana passada, pela primeira vez os indí­genas moradores da aldeia Te”yikue, em Caarapó, puderam se dirigir í  médica que estava de plantão no posto de saúde da aldeia na sua lí­ngua nativa. Foi a primeira semana de trabalho da médica Dara Ramires, que nasceu na aldeia. Dara prestou vestibular no final de 2014, foi aprovada e no iní­cio de 2015 iniciou a faculdade, se formando após 6 longos anos, em dezembro de 2020. Foi aprovada em dois vestibulares: na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Escolheu a UFSM para fazer o curso.

O Douranews traz aos leitores a história desta jovem médica, exemplo de mobilidade social e de que todos podem “chegar lá”:

Filha de Dario Ramires e Zeni Lemes Ramires, Dara conta que na infância teve uma rotina muito organizada. “Havia horário de brincadeiras e de cumprir minhas tarefas diárias. Quando paro para pensar, lembro da minha infância com muita alegria, brincadeiras e jogos”, recorda a médica, que começou os estudos com 4 anos no pré-escolar de uma cidadezinha próxima a Ponta Porã. Quando ia começar a antiga primeira série na aldeia Te”yikue, solicitaram que aguardasse completar 6 anos, por isso ficou em casa naquele ano

Como o pai sempre foi um ótimo jogador de futebol, de tanto vá-lo jogar Dara pegou um pouco de jeito para o futebol/futsal. Por causa do esporte se mudou para Dourados e se matriculou na Escola Estadual Ramona Pedroso, onde foi possí­vel disputar campeonatos e estudar o ensino médio. Quando passou para o segundo ano, foi aprovada em um teste para jogar futebol em Campo Grande. Pouco tempo depois, foi aprovada em outro teste em Belo Horizonte para jogar pelo Atlético Mineiro. Se formou no ensino médio na escola estadual Santos Dumont, de BH.

O interesse pela medicina surgiu dentro de casa. Dara cresceu escutando a mãe falar que ela seria médica. “Não me lembro quando me apaixonei pela área, mas sempre quis ser médica desde pequena”, disse.

Dara vá avanços na Saúde nas aldeias, mas pondera que muito ainda precisa ser feito. “Creio que a Saúde indí­gena já foi mais precária, mas que vem melhorando aos poucos com as lutas diárias dos patrí­cios. Não sei como é a situação em outras aldeias, mas tenho certeza que há muito o que melhorar ainda”, opina.

Como conciliar a medicina tradicional com a medicina ancestral, homeopática, muito praticada nas aldeias? A jovem médica, que conhece os dois lados desta moeda, tem uma opinião muito sensata: “Creio que cada pessoa tem sua fé, suas crenças e isso com certeza ajuda a lidarem com as enfermidades. E isso não é diferente para nós. Temos nossas crenças e eu não deixo isso de lado em um atendimento, eu tento ver qualquer paciente, independente se é indí­gena ou não, como pessoa, visualizando tudo do paciente, enxergando ele como um todo, a fim de aplicar uma medicina humana e também baseada em evidências”, relata.

Sobre a resistáncia de parcela dos indí­genas í  vacina da Covid, Dara pondera que isso ocorre “em todo lugar, não só nas aldeias”. “Com certeza, vem devido í  falta de informação e falsas informações disseminadas sobre a nossa atual situação. Creio que com o tempo, após conversas, orientações e principalmente paciáncia, aos poucos iremos alcançar a meta de vacinação”, acredita.

Indagada sobre qual seu objetivo profissional em relação aos irmãos í­ndios, a médica é muito clara: “Meu objetivo é atender bem a população indí­gena, ofertando atendimento de qualidade. Conheço a nossa realidade dentro da aldeia e, como indí­gena, quero atender as necessidades de cada um da melhor forma possí­vel. E mostrar aos jovens que sonhos se tornam realidade quando há persistáncia, disciplina e dedicação”.

A jovem médica, de 26 anos, acredita que, além de se sentir realizada, realizou o sonho da mãe. “Tudo que eu sou hoje, devo a ela e meu pai. Eles são os responsáveis por todos meus feitos até hoje. Sempre me apoiaram em tudo que eu quis fazer, sempre acreditaram que eu era capaz de tudo, bastava querer e eles iriam me ajudar”, diz emocionada. “Tudo que sou, sou por causa deles. Não tenho palavras para expressar meu agradecimento a eles. Deus foi/é muito bom comigo. Sou muito abençoada de ter uma famí­lia assim”, finalizou a médica indí­gena.

Fonte: Douranews

2021-03-10 11:05:00

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