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Agricultura de processos pode reduzir em 50% a dependência de fertilizantes

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Proprietário de plantação na região de Caarapó utiliza técnicas há pelo menos 10 anos.

Plantação com aplicação de compostagem e um mix de plantas de cobertura para a fertilização – Foto: João Vicente BoschigliaNa esteira da incerteza do suprimento de fertilizantes, especialistas afirmam que os produtores rurais podem reduzir em mais de 50% a dependáncia de adubos quí­micos, caso se apropriem de técnicas de plantio e migrem de uma de agricultura de insumos para uma agricultura de processos.

Consultor e coordenador do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas), Rogério Zart, afirma que “temos condições de ver uma composição mais sustentável na agricultura, o que nos deixa menos reféns das grandes empresas e dos adubos quí­micos”.

Outro especialista que vai na mesma linha é o consultor e agrônomo Mateus Arantes. “Existem vários produtores que plantam há mais de 12 anos sem fertilizantes, eles estão pouco se importando para as sanções contra a Rússia”.

Mateus é um pouco mais contundente e afirma que “não há bala de prata na agricultura. í‰ uma série de estratégias que consideramos as boas práticas. O agricultor, muitas vezes, não faz porque precisa de uma quebra de paradigma, existe quase um mantra de plantar soja e milho safrinha, e ele fica preso neste ciclo”, argumenta.

Ambos atestam para uma junção de processos que fornecem estofo e tranquilidade para que o solo seja mais saudável.

“O cloreto de potássio, um dos adubos quí­micos mais utilizados, acaba jogando contra a fertilidade do solo. Ele é como se fosse um sal e mata micro-organismos importantes, tornando a cultura ainda mais dependente de outros tipos de corretivos”, explica Rogério Zart.

Pesquisador de Manejo e Fertilidade do Solo da Fundação MS, Douglas Gitti destaca que “a análise do solo e do tecido vegetal é fundamental para a manutenção do equilí­brio nutricional e direciona a correta tomada de decisão de consultores e produtores rurais quanto í  definição da dose, local e forma de aplicação dos fertilizantes”.

Desde a invasão da Ucrânia, Rússia e Bielorrússia, que correspondem por 30% da oferta mundial de fertilizantes, sofrem sanções fortes e até suspensão de envio dos insumos.

No Brasil, o potássio é 95% de fonte externa e 60% vám da Bielorússia, gerando ainda mais preocupação sobre a disponibilização para o próximo ciclo.

Prática

O conflito deixou muitos produtores apreensivos, mas alguns não se preocupam tanto com isso. 

Proprietário de plantação na região de Caarapó, João Vicente Boschiglia, e o pai utilizam técnicas como as descritas pelos consultores há pelo menos 10 anos.

Segundo ele, o trabalho consiste no plantio de milho em conjunto ao pasto braquiária, com intuito de recuperar o solo e melhorar a oferta de matéria orgânica para o plantio.

“Nossa fazenda tem um solo relativamente fértil e precisa ser menos trabalhado e revirado que em algumas outras localidades”, diz João Vicente.

Ele revela que a produtividade nesta área de plantio conjunto fica prejudicada pela composição com duas culturas, mas, no decorrer dos anos, percebe que a produtividade do milho melhora nesse estágio, e a da soja também, quando plantar a safra seguinte.

No curto prazo, a produtividade do milho fica comprometida pela competição do espaço com o pasto.

O segundo passo tomado é a utilização de uma técnica de recolonização do solo com micro-organismo da mata da propriedade. Com esse aumento de matéria orgânica, há melhor reaproveitamento de nutrientes.

E a terceira etapa é a mineralização com o pó de rocha. Esse remineralizador ajuda na recomposição dos minerais, melhorando as condições do solo com menor custo.

“Observamos que depois de aplicados esses trás passos, a nossa dependáncia de fertilizantes diminui e conseguimos usar menores doses e alta eficácia”, relata.

 Micro-organismos

Outro ponto importante revelado pelos especialistas é a preocupação com a vida microscópica que habita o solo. 

“A compostagem é uma ótima fonte de minerais e nutrientes biológicos que independe de fertilização quí­mica”, enumera Rogério Zart.

Esse trabalho também é desenvolvido por João Vicente em Caarapó. “Com a compostagem, elevamos os ní­veis de micro-organismos e injetamos grande quantidade de minerais. 

Usamos dejetos produzidos na propriedade que são mais acessí­veis na região, no nosso caso, principalmente, a cama de frango”.

Rogério Zart enumera ainda resí­duos da indústria da mineração, do bagaço de cana, estercos da produção animal, suí­nos bovinos e aves como alternativas.

O produtor revela que a prática é como colocar “uma bomba de vida no solo”. Localizados em uma das regiões que mais sofreram com os desastres naturais na última safra, João Vicente conta que, por conta das práticas adotadas na propriedade, a perda sentida por eles ficou abaixo de alguns vizinhos.

“Sentimos que saí­mos com uma produção razoável, custos baixí­ssimos e acima da média da região”, conta.

Fonte: Rodrigo Almeida/ Correio do Estado

2022-04-08 10:37:00

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